07 dezembro, 2005

Chove lá fora

(Só para lembrar que eu já havia deitado a cabeça no travesseiro, quando uma vontade incontrolável de escrever algo me assaltou de súbito)

Eu sempre viajo muito quando chove. Eu não sei explicar exatamente o porque, mas é assim que é. Em todas as suas manifestações, a natureza é algo inconcebível... Mas o fenômeno que mais me fascina é a chuva. A chuva é melancólica, e acho que é por isso que fico muito em sintonia com ela.
Que coisa mais estranha essas gotas (tão lindas, que até dá vontade de comê-las...) que caem do infinito! A chuva é a prova concreta de que nada deixa de ser. Tudo um dia volta às suas origens, tudo que tem início um dia terá fim, e todo círculo é infinito. As nuvens negras que encobrem o céu não permanecerão ali para sempre, se transformarão em bálsamo para a terra tão necessitada. Mas, ainda assim, as nuvens não deixarão de se formar novamente amanhã. É observando isso que eu lembro que tudo não passa de momento, de mudança, e que é tão natural mudar quanto chover.
A chuva é impassível. Já corri pra chuva quando estava feliz. Já deixei que ela se mesclasse com minhas lágrimas e as lavasse, em momentos de profunda tristeza. Já fui obrigado a chegar no trabalho encharcado por uma chuva torrencial. Já protegi pessoas da chuva, usando guarda-chuva ou até mesmo uma toalha que estava à mão. A única vontade da chuva é lavar. E quem está na chuva, por vontade ou não, tem mesmo é que se molhar.
É filosófico observar a terra sendo regada pelos céus, o tipo de filosofia que todo mundo sabe, mas poucos ainda tiveram "tempo" pra observar. Em tempos em que tudo é pressa, quem se dá ao trabalho de observar a chuva, o sol, o vento? Pois é exatamente quando chove que eu paro. Me transformo em espectador. Pode ser da janela do quarto de minha avó, quando meus pensamentos voam em direção a outras eras... Ali, onde muitas vezes quando era criança estive lado a lado com meu tão querido avô, absorvendo tudo que fosse conhecimento que ele pudesse me passar... Tudo pode ter mudado, mas a chuva que molhava meus antepassados é a mesma que agora lava o telhado do meu lar. Como pode ser deitado na cama, pensando na infelicidade que quem nesse momento não tem um teto onde se abrigar. Sim, porque esse lado triste da chuva não pode ser ignorado...
A única coisa que ainda não conheci foi um beijo debaixo de chuva. Mas a chuva não vai parar nunca de cair... Há sempre tempo pra isso.

Ah, filosofia de botequim... Bom, mas eu avisei que eu viajava muito quando chovia.
:)

Boa noite de chuva pra nós, os cariocas.