03 janeiro, 2006

Dormir às 5 da manhã todos os dias não deve fazer bem pra ninguém.

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E dois dias se passaram. Terça-feira, férias. Olho no relógio. São três da tarde. Coloco meu casaco, pego chaves e carteira e saio. Atravesso a rua com a calma de quem passeia num parque em um domingo. Distraído, um Passat vermelho, desses que já não tem nem mais condições de rodar, quase me atropela. Malditos, sempre com pressa. O parachoque faz um ferimento na minha perna. Não seria tão grave se aquilo não fosse uma banheira ambulante. Não morro atropelado, mas morro de tétano.
Mais alguns passos e estarei lá. Cantarolo uma música do Brian Adams enquanto tento manter as mãos aquecidas dentro do bolso do casaco. Reparo que o frio está ficando cada vez mais cortante. Odeio frio. Na verdade eu adoro o frio, mas odeio quando meus dedos congelam. Odeio quando meu nariz congela. Mas é sempre legal ver seu hálito quente entrando em choque com o meio externo e congelando, formando aquela famosa fumacinha.
Tropeço. Por uns intantes esqueço o que estava fazendo ali. Preciso pensar em algo. Nunca sei o que dizer. Mas você tem o endereço dela! Quando você arruma o telefone celular é uma coisa. Você sabe que a pessoa tem grandes possibilidades de não lhe atender quando seu nome piscar no visor. Aí ela lhe dá o telefone da casa e fica sempre aquela dúvida de que tipos de avanço você está obtendo. Mas quando ela lhe dá o endereço, sem nem você pedir... Bom, tecnicamente ela não lhe deu o endereço. Mas isso não importa agora. Ah!, o endereço. Isso é um caminho sem retorno e você sabe disso. Não lhe resta nada a não ser aparecer na casa dela.
Droga, cheguei... Deslizo o indicador no botão. Preciso pensar em algo e apertar, rápido. O porteiro está me olhando torto. Posso... Que tal uma pergunta? Isso... Posso perguntar sobre... Não, melhor ser direto. Chamo ela pra sair? Mas como? "Oi, sou eu. Eu sei, você deve estar me achando um maníaco, o que eu talvez seja, por falar nisso, mas agora só quero lhe convidar para sair. Pode ser na sexta?".
E se ela não estiver em casa? E se ela não quiser sair comigo? Levar um fora por interfone seria bem pior do que pelo telefone... Droga, o porteiro está vindo. Devo correr? Ah, isso, ótimo, corra para ele pensar que você é um bandido...

- Deseja algo, meu filho?
- Aqui não é o condomínio... é... das flores... não, né?
- Não, nem nunca ouvi falar. Qual rua?
- Bom, sabe o que é? Deixa. Acho que me enganei.
- Mas me diga a rua, pode ser que eu...
- Tchau, hein! Obrigado!
Isso, perfeito. Já pensou na possibilidade de ela algum dia lhe convidar pra entrar? Vai ser perfeito ela saber através do porteiro que você andou rondando a casa dela. Parabéns, seu idiota.